A ESPERANÇA CELESTE – OS QUE VIVERAM A.E.C.
Os que viveram a.C, juntamente com os que não farão parte do grupo dos 144.000, são classificados pelas Tjs, de acordo com o Livro Poderá Viver para Sempre no Paraíso na Terra, como “Nova Terra… todos os fiéis que viveram antes de Cristo vir à terra.”. pág. 126.
Para dizerem isso eles apresentam alguns argumentos que gostaríamos de comentar: Na pág. 121 do Livro citado indicam-se duas passagens que afirmam ser a prova disso, são elas At. 2.29,24 onde se diz que “Davi não ascendeu aos céus.” E Jó 14.13-15, onde Jó diz, dirigindo-se a Deus: “…tu me chamarás e eu te responderei.”, note que nenhuma das citações diz que eles não iriam para os céus, e revela apenas que naqueles momentos eles não estariam nos céus. As afirmações dos homens de Deus da antigüidade estão em perfeita harmonia com I Cor. 15.52 e I Tes. 4.16. Será que o fato de eles terem vivido antes do nascimento de Cristo, significava não estarem em união com Cristo, ou não terem esperança celeste? Ou ainda que pelo fato de não terem uma idéia clara do arranjo Divino, devessem ficar de fora? Leia Jo.8.56, que diz “Abraão vosso pai, alegrou-se grandemente na perspectiva de ver o meu dia, e ele viu e se alegrou”, veja que Abraão já estava em Cristo, por perspectiva, antes mesmo de Ele nascer. Como o Messias era a esperança do Israel fiel, os que assim o aguardavam, pela fé, estavam em união com Cristo Jesus.
O mesmo Livro estabelece que João Batista NÃO “irá” para o céu, por interpretação de Mt. 11.11 “Aquele que é menor no reino dos céus é maior do que ele.” Já tivemos a oportunidade de estudar, constatando que tanto os 144.000 como a Grande Multidão em um tempo futuro estarão em um mesmo lugar, a Nova Terra; no entanto, ambos terão uma fase celeste, fase esta que João, como membro de uma das duas denominações, não será excluído. Como ter certeza disso? O primeiro ponto a considerar é que o verso não diz: “no Reino NOS céus”, mas “no Reino DOS céus”, assim percebemos que ele não indica lugar e sim procedência; o outro ponto a considerar é que o verbo está no presente “μειζων αυτου εστιν”, uma tradução literal seria “MAIOR DO QUE ELE É”. ’Estin é a forma original grega para o presente do indicativo ativo do verbo SER, na 3ª pessoa do singular, com isso entendemos que naquele MOMENTO o menor no Reino dos Céus era “maior” do que João, se essa passagem indicasse a condição futura do Batizador o verso deveria está no futuro: εσται – ELE SERÁ. Quando se trata de evento futuro o Senhor Jesus usa o verbo no futuro, vemos isso em Mt. 5.19 “Quem, portanto, violar um desses mínimos mandamentos e ensinar a humanidade nesse sentido, será chamado ‘mínimo’ com relação ao reino dos céus. Quanto àquele que os cumprir e ensinar, esse será chamado ‘grande’ com relação ao reino dos céus”. (grifei). A expressão “será chamado” traduz o grego κληθησεται, 3ª pessoa do singular do futuro do indicativo passivo do verbo καλεω (chamar), curioso é que a expressão “com relação ao reino dos céus”, traduz o grego: εν τη βασιλεια των ουρανων, a mesma construção foi traduzida em Mt. 11.11 por “no reino dos céus”, ou seja, a partícula εν foi traduzida por: “com relação a…” num verso e simplesmente por em+o= “no”, no outro verso. Além do mais o próprio v.11 que traz esta afirmação sobre o Batista, diz também que“… entre os nascidos de mulher não se levantou ninguém maior …” mas, é claro que Jesus era maior. Portanto essa passagem de Mateus tem um alcance mais profundo além daquele que uma leitura comum permite concluir. Observe, ainda, que Jesus como parte integrante do Domínio Celeste foi feito um pouco menor que os anjos, por causa da morte, sendo ele naquele momento o único mortal do Reino do Céus, sendo, portanto, o menor do Reino, no entanto, MAIOR do que João. O tempo presente no Grego da idéia da ação contínua, logo o verso em apreço ainda poderia ser traduzido por “aquele que é o menor no reino dos céus está sendo maior do que ele”, de fato, em sua resposta a João, que estava no cárcere, Jesus indica que estava sendo “MAIOR DO QUE ELE”, pois fazia os cegos verem, os coxos andarem, os leprosos serem limpos, os surdos ouvirem e até os mortos ressuscitarem, em um número incontável de milagres.
A própria idéia sustentada pela STV testemunha contra ela, pois se fosse real o entendimento de que pelo fato de João ser chamado inferior ao menor no reino dos céus ele não devesse ir para lá, por se considerar esse menor, um habitante celestial, havendo-se dito que embora sendo esse tal, MENOR, é um menor no reino dos céus, então “no reino dos céus” indica, no entendimento da STV, a condição celestial. Desse modo, então, estaria encerrada a dúvida quanto a condição celestial, futura, dos que viveram antes da era comum (AEC), posto que Mt. 8.11 diz: “Mas, eu vos digo que muitos virão das regiões orientais e das regiões ocidentais e se recostarão à mesa junto com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus.” A mesma expressão NO REINO DOS CÉUS encontra-se neste e no episódio de João Batista, tratar isso de forma diferente seria dois pesos e duas medidas, incoerência, ou em última análise arbitrariedade.
Além do que já foi apresentado, podemos encontrar na Bíblia a esperança dos próprios patriarcas em irem ao céu, antes, porém, apresento a opinião do Professor Universitário Arthur Hertzerg, acerca do Velho Testamento, transcrita do livro O Homem em Busca de Deus (STV): “Não existe doutrina de céu e inferno, apenas um crescente conceito de uma derradeira ressurreição dos mortos no fim dos dias.” O fato dos que viveram antes de Cristo não conhecerem a doutrina do Céu ou do Inverno (Sheol, Hades), como hoje conhecemos, não significa não poderem ir para lá, o livro continua: “Trata-se de uma simples e correta explicação do conceito Bíblico…”, de fato, somente as escrituras gregas cristãs trouxeram luz a muita coisa que no passado bíblico eram apenas sombras, no entanto é necessária ainda meditar na idéia do livro nos seguintes termos: Será que mesmo não conhecendo a existência do Sheol/Hades/Inferno, caso morram, porventura não permanecerão lá os merecedores, mesmo não acreditando na aniquilação eterna, e em contrapartida, os que viveram AEC, embora não tivessem uma idéia explicita quanto a ida ao domínio celestial, eles seriam privados disso, caso tenham sido fiéis até a morte? Busquemos, então, resposta a essa pergunta na Bíblia Sagrada pois ele nos apresenta a esperança celestial dos antigos patriarcas. Pensando nisso, leiamos Heb. 11.13-16, e analisemos os fatos revelados nesses versos, onde se mostra claramente a esperança dos pré-cristãos em entrarem em uma PÁTRIA CELESTE. Vamos ver versículo por versículo:
O verso 13 diz: “Todos estes morreram em fé, embora não recebessem o [cumprimento das] promessas mas viram-nas de longe e acolheram-na, e declararam publicamente que eram estranhos e residentes temporários no país.” Este verso por si só já nos apresenta uma viva esperança por parte dos heróis da fé. A expressão “NO PAÍS”, preferido pela TNM, traduz o original grego “επι της γης”. A gramática grega de A Freire (obra de ensino secular da língua, não vinculada a religião), apresenta o significado da preposição επι como sendo SOBRE quando rege o caso GENITIVO/ABLATIVO, essa regra se aplica ao verso, της é o artigo feminino no singular genitivo/ablativo e γης que também está no mesmo caso grego, é componente da palavra GEOLOGIA (estudo da terra), e significa primariamente TERRA, mas pode significar PAÍS e termos afins, resta saber se PAÍS é a palavra ideal a ser aplicada à passagem em foco, observe que a TNM a traduziu no singular, pois de fato assim está nos originais, todas as demais versões trazem no singular, no entanto não verteram como PAÍS, a exemplo da TNM, mas como TERRA. Levando em conta o contexto de Heb.11, onde se fala de Abel, Enoque, Noé, Abraão, e outros inúmeros, que viveram em locais e épocas diferentes, o termo PAÍS, parece não caber nessa passagem, não traduzindo bem a idéia original. A Bíblia não permite admitir que todos eles tenham vivido em um mesmo PAÍS. Observe-se que a TNM traduziu a mesma raiz γη_ no verso 9 do mesmo capítulo, como TERRA, onde, ai sim, poderia ser UM PAÍS, pois a palavra que a precede παρωκησεν (forasteiro), refere-se apenas a Abraão, e vem do verbo παροικεω (peregrinar), que tem o sentido de ser estrangeiro em um PAÍS estranho, segundo os eruditos Fritz Rienecker e Cleon Rogers na Obra Chave Lingüistica do Novo Testamento Grego, 1988 – Ed. Vida Nova; traduziu também a mesma Raiz como TERRA no verso 38; nesse caso, a palavra indica aonde estavam o conjunto de heróis da fé, a exemplo do próprio verso 13, que estamos comentando. É de vital importância a observação dessa tradução, que literal, contextual e uniformemente ficaria “SOBRE A TERRA”, trazem assim traduzido, dentre outras versões, Ed. Pastoral; So; CBC e sentido similar, dentre outras, BJ, A.C., ALA, BMD, BV. Traduzir como PAÍS, Heb. 11.13, faz com que o leitor de tal versão tenha uma idéia diferente daquela que está originalmente escrita, e seu raciocínio seja direcionado para outra concepção.
O verso 14 diz: “Pois, os que dizem tais coisas dão evidência de que buscam seriamente um lugar para si próprios”, o primeiro verso apresenta uma esperança, este segundo verso, não só apresenta esperança, como uma busca, o verso está todo no tempo presente, o que nos leva a reflexão de que o BUSCAR não só foi no passado pelos patriarcas, mas, também por pessoas vivas à época da epístola ou que a busca é tão significativa que transpôs as barreiras do tempo e revela o sentimento dos antigos acerca de uma esperança patente nos dias do escritor aos Hebreus. A expressão “um lugar para si próprio”, traduz uma única palavra grega πατριδα (Ac. Singular), que significa PÁTRIA e foi assim traduzida em todas as versões já citadas, com exceção da TNM donde estão sendo transcritos os versos para o estudo. Note então, que não é simplesmente “um lugar” que os heróis da fé procuravam, mas uma pátria, com toda profundidade que esta palavra possui. “Um lugar para si próprio” dá apenas uma idéia vaga e porque não dizer precária da força da palavra πατριδα. Esclarecemos ainda que, o escritor aos Hebreus possuía recursos lingüísticos suficiente para expressar “UM LUGAR PARA SI PRÓPRIO”, caso pretendesse, que seria τοπον εαυτοις. Os tradutores da TNM, ao que parece, não fizeram valer o que a STV registrou no livro Toda Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa, quando diz acerca da TNM: “…é tão uniforme quanto possível” e “…coerente na tradução de cada termo” pág 328, diz-se também que“…sendo literal, demostra-se também fidelidade no que diz respeito à tradução” pág. 326, pelo menos deu um gritante exemplo de nem ter sido uniforme, ao traduzir a mesma raiz γη_ por TERRA e PAÍS no mesmo capítulo da Bíblia, nem literal ao traduzir πατριδα que significa Pátria, por “um lugar para si próprio”, quando o escritor sagrado possuía os recursos da língua grega para expressar-se desse modo, caso fosse essa a sua intenção.
O verso 15 diz: “Contudo, se deveras tivessem lembrando do [lugar] de que tinham saído, teriam tido oportunidade de voltar” (grifei), note que o termo entre colchetes não consta do texto grego, e foi posto aí com finalidade de fazer lembrar o verso anterior na tradução da TNM, pois ela adotou essa palavra: LUGAR, como ponto de referência. A parte grifada pode ser traduzida “de onde” αφ ης (de desde que), sem perder o sentido original e sem a inserção de palavras inexistentes no Original, os versos 14 e 15 tramitem que os antigos seguidores de Jeová (Iahweh), os que viveram antes de Cristo, haviam estado em locais e ocasiões diversas, não simplesmente em um [lugar]. É curioso o fato de que depois de fazerem uma tradução pleonástica a STV, traduz os outros versos relacionados, de modo a se referirem justamente a uma palavra que não consta dos originais, ou seja, a palavra LUGAR.
O verso 16 diz: “mas agora procuram um [lugar] melhor, isto é, um pertencente ao céu…”, mais uma vez os colchetes aparecem dando lugar a uma palavra que não está nos originais, direcionando os pensamentos. Recapitulando o que já vimos temos: No verso 13, os fiéis que viveram A.E.C, consideram-se estrangeiros na terra, no verso 14 eles buscam uma pátria, no versos 15 não voltam para onde haviam saído por amor a essa pátria que procuram, e no verso 16 revelam a esperança de alcançar a pátria que é dita, no verso, como “pertencente ao céu”, a expressão traduz o grego επουρανιου que significa literalmente CELESTIAL, e foi assim traduzida em diversas passagens bíblicas na TNM, por exemplo Ef. 2.6, Ef. 1.20, I Tm. 4.18 e mais 04 vezes na própria Carta aos Hebreus, em 3.1 “οθεν αδελφοι αγιοι κλησεως επουρανιου μετοχοι”; em 8.5 “οιτινες υποδειγματι και σκια λατρευουσιν των επουρανιων”, em 9.23 “’…αυτα δε τα επουρανια κρειττοσιν θυσιαις παρ.”, e em 12.22 “ιερουσαλημ επουρανιω”, (os destaques são meus), esta última, quando referiu-se a Jerusalém. No livro “Toda Escritura” é chamada de coerência a tradução de NÉ-FESH e PSY-KHÉ por alma em todas as ocorrência na TNM, esta coerência, ao que nos parece, atingiu apenas algumas palavras da Bíblia, pois como se pode ver, há variações na Tradução de termos decisivos, enfatizando ensinamentos doutrinários já aceitos pelas TJs em detrimento da realidade escriturística bíblica. O que quero dizer com isso é que a forma como está traduzido na TNM só ocorre porque já existe a pré-concepção doutrinária, pois lingüisticamente não há razão para se traduzir esses versículos dessa forma, ou seja, com uma tradução verdadeiramente literal e coerente, em cada termo, não se poderá chegar a doutrina da não esperança celeste por parte dos que viveram AEC. Continuando o verso 16, temos “… por isso Deus, não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque aprontou para eles uma cidade”. Essa cidade será a Pátria Celestial dos que exerceram fé AEC e será, também, para aqueles a quem o escritor sacro escreveu, de acordo com 12.22, onde se indica como Cidade de Deus a própria Jerusalém Celestial.
O verso 16, levando em conta os manuscritos originais baseando-se no texto da TNM, ficaria: “…mas agora procuram alcançar uma [pátria] melhor, isto é, a celestial. Por isso Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque aprontou para eles uma cidade.” Compare com Heb. 12.22, que é reconhecido como uma alusão a ida ao céu pela STV: “Mas vós vos chegaste a um monte Sião e a Jerusalém Celestial, e a miríades de anjos”. Simplesmente não a razão para dizer que esta cidade são duas distintas, tão pouco amparo bíblico.
Quanto as adaptações textuais há inúmeras exemplos. Não sendo estes da carta aos Hebreus os únicos, há inúmeras outras “adaptações” para fazer encaixar aos ensinamentos das TJs. Citamos inclusive outro exemplo no início desse estudo, que foi o caso da tradução: “com relação ao reino dos céus” e “no reino dos céus” sentidos completamente diferentes foram aplicados à mesma expressão grega: “εν τη βασιλεια των ουρανων”, em Mt. 5.19 e Mt. 11.11 respectivamente, curiosamente no mesmo evangelho.
CONCLUSÃO
Sendo a abordagem feita pela organização religiosa, citada a princípio, das passagem bíblicas, colocadas em foco, tão questionáveis, conforme vimos neste pequeno estudo, nos resta, apenas esperar e apelar ao bom senso dos sinceros estudantes da Bíblia para que juntos possamos adquirir conhecimento exato de Deus.