23 jun 2010

Os Dez Mandamentos e a Reencarnação – 2

Categoria: Espiritismovaldomiro @ 16:27

UM PROBLEMA NÃO RESOLVIDO

A preferência da tradução por “NA” não soluciona o problema kardequiano!

O objetivo dessa tradução seria a elaboração do esboço do conceito reencarnacionista na passagem do decálogo. Deus cobraria a partir do neto (em uma possível reencarnação na terceira geração) a iniquidade provocada pelo espírito (pai), ou seja, esse espírito não poderia reencarnar no próprio filho, pois estaria vivo ao gerá-lo, mas poderia no neto. Ocorre que a expressão Bíblia diz “terceira E quarta geração”. Ora, não pode do pai no filho, mas pode terceira E quarta, consecutivamente? Neto e bisneto; é seqüência do mesmo jeito!

Ou seja a tentativa de enquadrar a doutrina espírita em um lugar aonde não lhe deu guarida a providência divina gerou dificuldades de equacionamento à seus ensinadores. Primeiro é a impossibilidade de negação da preposição “ATÉ”; segundo, é o fato de que mesmo rejeitando esta preposição o problema da idéia de següência inerente ao verso e seu contexto, continua. A tentativa de adaptação espírita, que intenciona tornar excludentes as cobranças em seqüência, apenas a deslocou do início do versículo “Pai e filho”, para duas gerações depois, “terceira e quarta”.

A isto tentam remediar, sugerindo que o entendimento deveria ser “terceiro OU quarta geração”. Mas até na versão americana preferida por alguns espíritas, a New American Standard Bible, encontramos “END” que significa “E”, em contraste com “OR”=OU

Na TORÁ encontramos, que foi escrita na língua original, a letra é Vav que significa “E”, em contraste com a palavra formada pelas letras “Alef, Vav”=OU

Na Septuaginta encontramos “KAI” que significa “E”, em contraste com “H”=OU

Na Vulgata Latina encontramos “ET” que significa “E”, em contraste com “AUT”=OU.

E a propósito da coordenativa aditiva “ET”, nos diz o Dicionário Latino-Português de Francisco Torrinha, 2° Ed., páginas 297: “muitas vezes serve para mostrar que se junta alguma coisa a outra já mencionada”, e ainda “por vezes tem valor temporal e indica que uma ação sucede a outra”, e é curioso que ela própria tem, também, a possível tradução por ATÉ, conforme nos ensina o mesmo Dicionário.

Alguns podem alegar que esse entendimento prejudicaria, também, o uso da preposição “ATÉ”, suscitando a dúvida: Se a visitação é ATÉ A TERCEIRA, por conseguinte não pode ser ATÉ A QUARTA, poi ou “até” uma coisa ou é “até” outra.

Sem perder de vista que se a preposição traduzida por “ATÉ” foi vertida por “na” em algumas versões, o mesmo não podemos dizer da aditiva “ET”, pois nenhuma delas nos dá como tradução possível o termo “OU”, seja em hebraico, grego, latim, português ou inglês. Também não podemos esquecer que o entendimento das Escrituras deve ser visto sempre dentro do contexto, não esquecendo ainda de observar o modo de escrever da época. A expressão “até terceira e quarta” não deve ser entendida como forçosamente excludente de seus termos entre si, e, de fato não é, como já visto nas linhas anteriores; ou mesmo que deva conter um inexistente “OU” para dar um “sentido melhor” ao texto. O que está claro no verso, e isto confirma a forma gramatical escrita, é que não passaria da “quarta”. É perceptível o contabilismo “três” e “quatro” em caráter oracular em outros momentos da história bíblica: Am. 1.3 ” Assim diz o senhor: Por três transgressões de Damasco, e por quatro, não retirarei o castigo; porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro.”, Am. 2.6 “Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Israel, e por quatro, não retirarei o castigo; porque vendem o justo por dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos”. A idéia natural de adição é inconfundível tanto lá quanto aqui. A quarta não exclui a terceira, nem a terceira a quarta, mas até chegar a elas passa-se pela “primeira” e “segunda”. A aditiva “ET”, usada na versão latina, é, também, usada para imprimir insistência, conforme o Dicionário Latino-Português da Edições e Publicações Brasil, 1943, Pg. 192, e isto parece está bem patente nos versículos que falam da “visitação”. Em nossa língua às vezes usamos construções semelhantes, como por exemplo: “Passarei pelos estados brasileiros, até Rio e São Paulo”.